quarta-feira, 15 de agosto de 2012


POTENCIAL DO ÁCIDO PERACÉTICO PARA DESINFECÇÃO DE
ESGOTO SANITÁRIO
Autores: Leandro H. Martins Dias (Acadêmico do curso de Engenharia Ambiental)
e-mail: lhdias.amb@gmail.com
Jeanette Beber de Souza (Professor do curso de Engenharia Ambiental)
e-mail: jeanettebeber@yahoo.com
Resumo
A desinfecção de esgotos tem como principal objetivo garantir a qualidade
microbiológica do efluente antes do seu lançamento num corpo d´água. O cloro é o agente
desinfetante mais largamente empregado, mas seu uso está relacionado a vários
inconvenientes. Outras tecnologias também são aplicadas como radiação UV e membranas
filtrantes, mas para a implantação destas é necessário alto investimento inicial. O ácido
peracético é reconhecido há alguns anos como um poderoso desinfetante, e devido a isso, seu
uso na desinfecção de efluentes industriais e domésticos vem sendo estudado.
Introdução
A desinfecção de efluentes sanitários tem por objetivo garantir a qualidade
microbiológica deste efluente para seu lançamento no corpo receptor. A desinfecção de
esgotos não tem como objetivo a esterilização completa de todos os microrganismos presentes,
mas sim a inativação de microrganismos que possam causar algum risco à saúde humana, ou
seja, o objetivo da desinfecção dos esgotos é reduzir o risco de transmissão hídrica de
doenças infecciosas tais como: giardíase, amebíase, ascaridíase, cólera entre outros conforme
Chernicharo (2001).
A lagoa de maturação é o processo de desinfecção mais utilizado no Brasil, porém, o
objetivo dessas lagoas nas ETEs brasileiras é a remoção de matéria orgânica, e não a
desinfecção.
O cloro é o agente desinfetante mais largamente empregado em todo o mundo, no
entanto, seu uso está relacionado a vários inconvenientes, como a necessidade de
descloração antes do lançamento em corpo receptor, pois, o cloro livre pode-se combinar com
a matéria orgânica ainda presente no esgoto e ocorrer a possível formação de Trihalometanos,
que são substancias possivelmente carcinogênicas. Nesse contexto, pesquisas referentes a
métodos de desinfecção alternativos ao cloro são de suma importância. Tecnologias como a
radiação UV e as membranas filtrantes e o ácido peracético têm sido muito estudadas
ultimamente.
O ácido peracético vem sendo reconhecido há alguns anos como um poderoso agente
bactericida, fungicida e esporicida em diversos setores: hospitais, equipamentos de
laboratórios médicos, na agricultura, e, mais recentemente, na desinfecção de efluentes
industriais e domésticos (Souza e Daniel, 2005). O presente trabalho teve como objetivo
analisar a qualidade microbiológica do efluente da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de
Irati, PR, e avaliar a potencialidade do uso do ácido peracético para a desinfecção do efluente
final da lagoa, no que se refere à inativação de coliformes totais (CT) e do microrganismo
indicador específico de contaminação fecal Escherichia coli, bem como a interferência da
qualidade do esgoto no processo de desinfecção.
02 a 05 de junho 2008
Campus Irati
Metodologia
O presente estudo foi realizado com o efluente da ETE Rio das Antas da Companhia de
Saneamento do Paraná (SANEPAR) localizada no município de Irati, PR. Esta ETE possui
tratamento preliminar, composto por grade e caixa de areia, tratamento secundário constituído
por dois reatores anaeróbios em paralelo (RALF e UASB) seguido por lagoa facultativa.
A coleta foi realizada ao longo de um dia (das 9:00 às 17:00 horas) com intervalos de 2
horas entre cada coleta, e foram realizadas coletas do esgoto afluente e do efluente da lagoa
facultativa.
Foram realizadas as análises físico-químicas de pH, turbidez, sólidos totais (ST) e
sólidos suspensos totais (SST) com vistas a avaliar a interferência desses parâmetros no
processo de desinfecção, além da análise microbiológica para a verificação da concentração
de Coliformes Totais (CT) e Escherichia coli presentes no esgoto. Estas análises foram feitas
seguindo o STANDARD METHODS FOR THE EXAMINATION OF WATER AND
WASTEWATER (APHA, 1998).
Resultados
Após as análises microbiológicas foi possível constatar um decaimento da ordem de 2 a
3 unidades logarítmicas para o efluente da lagoa facultativa. Segundo Von Sperling (2005),
uma ETE com fluxograma similar ao da ETE Rio das Antas, deve atender a um decaimento da
ordem de 3 a 5 unidades logarítmicas, porém, no caso da região de Irati ser mais fria e
apresentar uma temperatura média mais baixa, esse decaimento se encaixa aos padrões da
literatura.
Entretanto, os valores de CT e E. coli obtidos ainda são considerados altos pela
resolução 274 do CONAMA e pela Organização Mundial de Saúde, verificando assim a
necessidade da agregação ao fluxograma da ETE Rio das Antas de uma unidade de
desinfecção antes do lançamento do efluente ao corpo receptor, pois essa concentração
elevada de microrganismos pode trazer problemas para pontos de coleta de água para
abastecimento e pontos recreacionais de contato primário (balneabilidade) à montante do
ponto de lançamento.
Essa nova unidade de desinfecção agregada ao atual fluxograma poderia ser composta
por qualquer tipo de desinfetante, sendo ele um desinfetante de atuação química como o cloro
ou o ácido peracético, ou de atuação física como a radiação UV e a membranas filtrantes.
Todos são processos de uso conhecido ou que tem seu uso sendo estudado, e apresentam
vantagens e desvantagens em seus processos, implantação e operação.
O cloro é a tecnologia de desinfecção mais utilizada no Brasil e por isso muito
conhecida, é utilizado na forma de cloro gasoso, hipoclorito de sódio ou de cálcio. Contudo, o
cloro deixa um residual que é tóxico à vida aquática e pode gerar compostos com potencial
perigoso e carcinogênico como organoclorados e trihalometanos, isso traz a necessidade de
uma etapa para a descloração, tornando o processo mais caro e inviabilizando de certa forma a
desinfecção.
O Ácido Peracético é um produto que vem sendo reconhecido como um ótimo
desinfetante e seu uso é efetuado em diversos setores. Sua utilização já vem sendo estudada
em todo o mundo há alguns anos. É de fácil implantação e operação, semelhante ao cloro,
reduz uma pequena parcela de DBO além de aumentar a concentração de oxigênio dissolvido.
No entanto seu uso ainda é passível de pesquisas e os produtos utilizados, como o
PROXITANE® 1512 produzido pela empresa Tech Desinfecção, tem custo elevado quando
comparado ao cloro.
02 a 05 de junho 2008
Campus Irati
A radiação UV é um processo que não deixa nenhum residual perigoso ou tóxico e
requer uma pequena área de implantação quando comparado a processos convencionais, mas
apresenta problemas como o aumento do gasto de energia da ETE e da necessidade de uma
boa qualidade do efluente para que ocorra a desinfecção, o efluente deve ter baixa turbidez
para que haja a penetração da luz no efluente, e para isso seria necessária uma etapa de
filtração, por exemplo, para a clarificação do efluente que fosse anterior ao processo de
desinfecção.
O uso de membranas filtrantes é um processo que também depende de pouca área
para sua implantação e faz com que o efluente tenha uma ótima qualidade com relação à
concentração de sólidos suspensos, mas sua operação é mais complicada com relação a
outros processos devido à necessidade de lavagens periódicas para a não colmatação da
membrana, e principalmente pelo alto custo dessas membranas com relação a outros
processos.
Conclusões
Através do presente trabalho e das análises realizadas em laboratório pode-se verificar
a potencialidade do uso de desinfetantes como o cloro, ácido peracético, radiação UV e
membranas filtrantes, no entanto, ao analisar as vantagens e desvantagens apresentadas por
cada um desses desinfetantes pode-se perceber o grande potencial de uso do ácido peracético
para ser utilizado na desinfecção da ETE de Irati pelo motivo de não apresentar residual tóxico
e de haver área disponível para sua implantação nas imediações da ETE.
Além disso, com a implantação de uma etapa de desinfecção após a saída do efluente
da lagoa, a ETE poderá atingir com mais facilidade os padrões estipulados pela resolução 247
do CONAMA e da OMS.
Referências
APHA – AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION (1998). Standard Methods For The
Examination Of Water And Wastewater, 19 ed., Washington.
CHERNICHARO, C. A. L. (2001). Pós tratamento de efluentes de reatores anaeróbicos.
PROSAB/FINEP Rio de Janeiro, 544 p.
GONÇALVES, R. F. (2003). Desinfecção de efluentes sanitários. PROSAB/FINEP Rio de
Janeiro, 422 p.
SOUZA, J. B.; DANIEL, L. A. (2005). Comparação entre hipoclorito de sódio e ácido peracético
na inativação de E. coli e C. perfringens em água com elevada concentraçao de matéria
orgânica. Revista de Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 10, n. 2, pp.111-117.
VON SPERLING, M. (2005). Introduçao a qualdidade das águas e ao tratamento de esgotos.
DESA/UFMG Belo Horizonte, 452 p.

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